segunda-feira, 17 de setembro de 2007

DEUS, OBRIGADA POR SER TÃO PROVINCIANA!


Pela primeira vez na minha vida eu agradeço a Deus por ser tão provinciana, mas tão provinciana, que quando eu abandono São Bernardo - a terra dos batateiros – me assusto com o que é rotina na cidade vizinha.

Na sexta feira eu liguei para agendar uma entrevista para estágio numa emissora de TV. A intenção era agendá-la para segunda, já que quando recebi o telefonema passava das duas horas da tarde. Mas manda quem pode e obedece quem tem juízo. A moça do RH me ligou às três horas da tarde, solicitando o meu comparecimento naquele mesmo dia, às 17h30. Detalhe: a emissora fica próxima ao Palácio do Governo.

Lá fui eu. Aqui na minha província há ônibus para a cidade grande, e uma vasta variedade deles. Há até para o Morumbi, e foi esse mesmo que eu peguei. Ao chegar lá, o motorista me orientou a pegar um outro ônibus numa avenida que ficava próxima de onde eu desci.
Tudo bem, como diria a moçinha do comercial. Ai, que delícia caminhar debaixo de um sol de 39 graus, e de salto...
Cheguei à avenida que era realmente perto, mas ninguém sabia informar nada sobre o tal ônibus. A saída era perguntar para quem poderia informar melhor : motoristas de ônibus, motoboys e taxistas. As duas primeiras opções não funcionaram. Acredite, eu estava no bairro do Morumbi e ninguém sabia informar como eu faria para chegar ao Palácio do Governo, que fica no mesmo bairro.
Eu fico espantada porque se eu estivesse no meio da favela do Silvina e me perguntassem como poderiam chegar à prefeitura municipal de São Bernardo eu saberia dar as cordenadas, mas eu ainda não havia caído na real, eu estava em São Paulo!!!

Uma alma boa me disse que eu poderia pegar um ônibus na famosa Avenida Santo Amaro. Foi uma pernada até lá, mas pelo menos eu encontrei um ponto de táxi para pergntar à outra fonte; estudante de jornalismo, sabe como é...
Qual não foi a minha surpresa quando o taxista me informou que o ônibus indicado pela outra pessoa não passava ali e que eu precisaria pegar mais dois ônibus para chegar ao meu destino. É isso mesmo, mais dois ônibus.

Eu acho que ainda fui um pouco grossa questionando como era possível ter que 'tomar' dois ônibus para chegar a um local que ficava naquele mesmo bairro... A minha intenção não era ofender, é que aqui, em Bernô City, isso não existe. O máximo que acontece é termos que pegar dois ônibus, mas para mudar de cidade, e não de bairro. Enfim... (continua)

CORRIDA DE OBSTÁCULOS, A GRANDE JORNADA.


Lá fui eu pegar o microônibus. Ele demorou e veio completamente lotado aquilo era uma miniatura de microônibus, isso sim!!!

As pessoas de São Paulo são dotadas de super-poderes. São elásticos – sim, porque para se manter em um ambiente tão apertado, só sendo dotado desse poder mesmo -, desativam a função olfativa – é, porque pegar microônibus lotado em um dia de sol quente, com a galera que trabalhou e suou o dia inteiro, só tendo o poder de ignorar os odores naturais do corpo... -, poder de se abstrair do local – como é possível, além de tudo isso, agüentar o choro de um bebê irritado?

Imagine que, além disso, você tem que ter tato para lidar com Ânimos alterados, inclusive com o seu. Eu tive que descer e subir do microônibus várias vezes durante o percurso porque havia somente uma porta que servia para o embarque e o desembarque. É coisa de português mesmo, que me desculpem os meus patrícios.

Mas em uma dessas vezes, uma moça se colocou na minha frente, e eu disse a ela para que esperasse, porque o motivo da minha descida era desobstruir a passagem, e eu iria voltar para a lata de sardinha, quer dizer, para o microônibus. Ela me chamou de estressada, e eu fiquei quieta, afinal não queria correr o risco de chegar à entrevista com um olho roxo...

Ao final dessa jornada, eu ainda tive que pegar aquele outro ônibus, lembra? O que mantinha o meu pique é aquele velho pensamento... "todo o esforço será recompensado'... e sabe que funciona?

Depois de todo isso eu ainda estava com pique. Nervosa, mas com pique. A segunda jornada foi mais tranqüila e até engraçada. A essa altura do campeonato a minha escova perfeita ‘a la’ Farah Fawcett tinha sido transformada em uma imitação de piaçava barata, e a minha testa reluzia mais do que diamante, por conta da oleosidade causada pela poluição e pelo suor também. Salve, salve os lenços umedecidos!

Bem, eu me mantive perto do motorista para que ele me avisasse com antecedência a hora certa de descer. Entrou uma figura com os botões da camisa desabotoados, a característica correntinha dourada no pescoço com o pingente de crucifixo e os famosos óculos dois por R$15,00 da feirinha. Sentou-se ao meu lado e começou a lançar uns olhares cheios de malícia, com direito a biquinhos, caras, bocas, beijinhos...

Conforme combinado, quando cheguei perto o motorista me avisou e eu tive que acordar o cobrador, isso mesmo, o cobrador estava dormindo e não despertou com a minha voz o chamando, eu tive que cutucá-lo.

TODOS OS ESFORÇOS SERÃO RECOMPRENSADOS...


Ao chegar ao local onde o vento faz a curva me senti vitoriosa. Depois de tantas adversidades eu havia conseguido. Me identifiquei na portaria e logo de cara emagreci uns 15 quilos, graças as secadas dos seguranças, - Por que eu só atraio esses tipos?
Entrei, preenchi a solicitação de estágio e aguardei. As duas (responsável pela vaga e estagiária) me entrevistaram e foram super simpáticas. Só um adendo: Antes de sair de casa eu havia perguntado quais eram as características da vaga, e a estagiária somente me falou sobre a atividade, nada sobre salário e benefícios. Eu desconfiei, mas fui. Não gosto de deixar as coisas passarem na dúvida, eu tenho que esclarecê-las.

Pois é, depois de me encantarem falando sobre a proposta de estágio veio a decepção. Eles só pagam um vale-transporte e o salário não atinge o piso salarial de São Paulo. Eu já sabia que aquela casa pagava pouco, porque tenho amigos que trabalham lá, mas não pensava ser tããããão pouco. Mesmo assim fiz o teste, e vamos ver no que dá.