sexta-feira, 9 de novembro de 2007

LOIS LANE - SOBREVIVENTE DA MEGALÓPOLE


Ontem seria um dia atípico para qualquer pessoa, mas o que é anormal para outros é cotidiano para mim.



“Todo o dia ela faz tudo sempre igual...” peguei o mesmo ‘bat’ ônibus, no mesmo ‘bat’ horário porém, não era o mesmo ‘bat’ motorista. Até aí tudo bem. Sentei, li uns cinco minutos e capotei, como de costume. Uma hora depois fui acordada pelo meu subconsciente que me avisa a hora em que eu tenho que descer do ônibus.

O motorista não sabia onde era e passou do ponto, mas sem problemas. Ele parou no meio do passeio público e me pediu para ir ‘encostadinha’, com cuidado, afinal a calçada estava há uns dez passos de mim. Obedeci, que remédio? O meu bom-humor não me permite brigar logo de manhã.

Cheguei sã e salva na calçada, mas quando me aproximava do ponto de ônibus eu senti um empurrão forte por trás vindo de uma coisa dura (humm). Mas acredite, não foi agradável. Depois de ter me empurrado por uns quatro passos beeem largos, o empurrão cessou e então eu pude ver o que era a coisa dura, que me empurrara daquela forma. Me assustei com o que vi. Era um ônibus. Sim, eu fui atropelada por um ônibus, e na calçada. Quantas pessoas você conhece que foram atropeladas por um ônibus na calçada e sobreviveram para contar a história?

Fiquei tão pasma que nem peguei a placa. Burra! Bem, mas como eu não me machuquei, continuei com o meu bom humor. Peguei o ônibus lotado, conferi a previsão do tempo e vi o horóscopo do dia na bustv,. Chegada a Faria Lima, desci no ponto habitual.

Cheguei no local onde cumpro o meu nobre estágio (sou estagiária de uma das maiores ONGs do Brasil. Óóóóóóóh! rsrsrsr) e cumpri a minha rotininha de sempre. Saí exatamente na hora que está no meu contrato, como eu quase nunca faço, aliás. Havia um propósito na pontualidade: tirar fotos.

Eu, juntamente ao meu grupo, tenho que entregar uma revista, e para mim sobrou a tarefa bacanérrima de fazer as fotos. ADOOOORO! O tema que eu sugeri colou. As faces de Sampa. A idéia é fotografar as pessoas que dão cara a capital.

Assim que cheguei no viaduto do Chá, tive uma grata, mas decepcionante surpresa. Um cantor chamado Toninho Nascimento, que inclusive já foi ao Raul Gil (sei que não é critério para avaliação de qualidade, mas...), e que é fera mesmo estava fazendo show na rua. Não por nada. Eu não sei em outros países, mas fazer show na rua aqui, em “Terra Brasilis” é sinônimo de falta de reconhecimento total.

Tirei as minhas fotos, troquei meia dúzia de palavras e fui fotografando e conversando com alguns personagens que julgava interessantes. Entre eles uma artesã chamada Sueli que sustenta três pessoas, entre elas a mãe que sofre de mal de Parkinson, vendendo as bonequinhas e o Pablo Seguro, que já trabalhou em lojas e restaurantes e agora vende seus quadros na rua, tirando o seu sustento da satisfação de sua alma.

A última entrevistada foi a mãe Taty , aposentada, cartomante, mãe de santo, ilê axé de oba (ela disse que é tudo isso), que me extorquiu cobrando R$ 2,00 para que fosse fotografada, mas como diria a garota da propaganda:
“tudo bem.”

Escapei de um dilúvio por minutos, e ganhei uma sauna. Ônibus lotado quando chove é foda! Todas as janelas fechadas, o povo só falta vedar tudo. Vi uma cena no mínimo estranha. Uma garota estava totalmente encharcada e despenteada, zuada mesmo, tirou o gloss da bolsa e passou, como se estivesse complementando um visual chiquérrimo. Vai entender...

Cheguei em casa faminta, cansada, fedida e com menos uma vida. Lois Ane sobrevivente em Sampa.
Ah, por falar em sete vidas, e coisa e tal, assita esse vídeo do Gram, é muito legal! E no link lá de cima você assiste ao video de cotidiano, do Chico.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

MUDANÇA DE VISUAL QUE PROVOCA MUDANÇAS DE HÁBITO



É engraçado como às vezes começamos a observar com outros olhos informações que nos vêm à vista todos os dias. Estava com a minha auto-estima lá embaixo. Como diria a turca daquela novela, a minha auto-estima estava “na chon”. Aí resolvi mudar de visual, e mudar para mim é radicalizar. Troquei temporariamente as minhas madeichas escovadas ‘a la’ Farah Fawcett por tranças de raiz, inspirada por uma cantora com a qual eu me identifico muito, inclusive visualmente, a Alicia Keys.

Saí do salão mais insegura do que entrei, mas sem problemas. Sou um pouco masoquista, gosto de enfrentar situações que me deixam desconfortáveis. Não sei porque, mas acho que isso me faz sentir mais forte no fim das contas. E além disso, adoro cabelo preso. Mostra mais o meu rosto que é a parte que eu mais gosto do meu corpo.

O fato é que hoje, depois de três dias, eu contabilizo as manifestações diante do meu novo visual. As minhas e as dos outros. A primeira delas é como as pessoas gostam de administrar a vida alheia. A segunda é como as pessoas são preconceituosas.

Olhar-me no espelho fez com que eu relembrasse de quando estava saindo da adolescência e usava tranças rastafari. Eu já ouvi absurdos como “você é branca, porque coloca essas coisas na cabeça?”, de outra feita, um pseudo-hippie me perguntou se eu queria ser branca ou preta com aquele cabelo. É fogo.

Mas ontem foi pior. A empresa onde uma colega _a qual denominarei como colega (1) para facilitar a narração e para não citar o nome dela_ faz estágio está contratando secretária para a diretoria executiva. Ela levou o currículo de outra colega, a qual denominarei colega 2, já sabe porque. As duas conversavam a respeito da vaga. A colega 1 falava empolgadíssima sobre o cargo, que segundo ela é super hiper mega blaster ultra elitizado, até que a colega 2, candidata à vaga, perguntou sobre o que a contratante achara do currículo dela.

Aí, a colega 1 disse que eles haviam perguntado sobre como ela era, e para a minha surpresa, a colega 1 a descreveu como sendo branquinha e magrinha. Parei de prestar atenção, depois disso várias coisas vieram à minha mente. Indignada perguntei “O que tem a ver ela ser branquinha, se fosse negrinha perderia pontos?”, para meu espanto, a colega 1 falou que elas haviam perguntado isso. E ela disse isso sem nenhuma indignação, com a maior naturalidade. Não satisfeita, ela continuou o monólogo falando “que secretária de diretoria não pode nem mesmo mexer no cabelo”, e mais uns 10 minutos de blá, blá, blá.

Eu senti um misto de raiva e dó. Coitada dessa garota. Como uma pessoa com uma mente pobre dessas faz jornalismo? Quantas pessoas como ela devem estar tomando conta de redações? Meu Deus, que porra é essa?

Depois de algum tempo, lembrei que estávamos conversando sobre o teste da Rede Globo e ela havia dito que outra colega não passaria porque era feia. E olhe que ela nem é bonita, ela é ‘normalzinha’, é o que pode se chamar de arrumadinha. Eu não quero ficar com raiva dela, porque eu gosto dessa minha colega, mas tá difícil...

No fim das contas tenho quase certeza de que ela falou na inocência, coitada. Acho que é o que chamamos de racismo velado. Ela deve estar deslumbrada com um ambiente de trabalho totalmente fútil (acredite, isso existe de montão no jornalismo).

Me lembrei de outro fato também. Em um dos inúmeros processos seletivos pelos quais passei, fui entrevista por uma negra. Uma jornalista muito bonita e inteligente por sinal. Ela havia trabalhado na redação de uma das mais conhecidas revistas semanais brasileiras. Outra colega que trabalha com ela disse que uma capa dessa mesma publicação havia sido vetada por conter uma foto onde o dono de uma empresa estava abraçado com seu funcionário que era negro.

Essa jornalista, que na época era repórter da publicação, foi chamada para uma conversa onde pediram para que ela não ficasse chateada pelo ocorrido. Essas coisas estão mais perto de nós do que imaginamos...

Por fim, devo dizer que a maioria das pessoas aprovou o visual, e mesmo se não o tivessem feito, eu não ligaria. Não é do meu feitio dar importância demasiada ao que não tem importância, ou a quem não tem importância. Mas você vai concordar comigo. Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre que se conforma em ter dinheiro e representar uma boa imagem aos outros, né? Deve ser muito triste ser o que tem...