É engraçado como às vezes começamos a observar com outros olhos informações que nos vêm à vista todos os dias. Estava com a minha auto-estima lá embaixo. Como diria a turca daquela novela, a minha auto-estima estava “na chon”. Aí resolvi mudar de visual, e mudar para mim é radicalizar. Troquei temporariamente as minhas madeichas escovadas ‘a la’ Farah Fawcett por tranças de raiz, inspirada por uma cantora com a qual eu me identifico muito, inclusive visualmente, a Alicia Keys.
Saí do salão mais insegura do que entrei, mas sem problemas. Sou um pouco masoquista, gosto de enfrentar situações que me deixam desconfortáveis. Não sei porque, mas acho que isso me faz sentir mais forte no fim das contas. E além disso, adoro cabelo preso. Mostra mais o meu rosto que é a parte que eu mais gosto do meu corpo.
O fato é que hoje, depois de três dias, eu contabilizo as manifestações diante do meu novo visual. As minhas e as dos outros. A primeira delas é como as pessoas gostam de administrar a vida alheia. A segunda é como as pessoas são preconceituosas.
Olhar-me no espelho fez com que eu relembrasse de quando estava saindo da adolescência e usava tranças rastafari. Eu já ouvi absurdos como “você é branca, porque coloca essas coisas na cabeça?”, de outra feita, um pseudo-hippie me perguntou se eu queria ser branca ou preta com aquele cabelo. É fogo.
Mas ontem foi pior. A empresa onde uma colega _a qual denominarei como colega (1) para facilitar a narração e para não citar o nome dela_ faz estágio está contratando secretária para a diretoria executiva. Ela levou o currículo de outra colega, a qual denominarei colega 2, já sabe porque. As duas conversavam a respeito da vaga. A colega 1 falava empolgadíssima sobre o cargo, que segundo ela é super hiper mega blaster ultra elitizado, até que a colega 2, candidata à vaga, perguntou sobre o que a contratante achara do currículo dela.
Aí, a colega 1 disse que eles haviam perguntado sobre como ela era, e para a minha surpresa, a colega 1 a descreveu como sendo branquinha e magrinha. Parei de prestar atenção, depois disso várias coisas vieram à minha mente. Indignada perguntei “O que tem a ver ela ser branquinha, se fosse negrinha perderia pontos?”, para meu espanto, a colega 1 falou que elas haviam perguntado isso. E ela disse isso sem nenhuma indignação, com a maior naturalidade. Não satisfeita, ela continuou o monólogo falando “que secretária de diretoria não pode nem mesmo mexer no cabelo”, e mais uns 10 minutos de blá, blá, blá.
Eu senti um misto de raiva e dó. Coitada dessa garota. Como uma pessoa com uma mente pobre dessas faz jornalismo? Quantas pessoas como ela devem estar tomando conta de redações? Meu Deus, que porra é essa?
Depois de algum tempo, lembrei que estávamos conversando sobre o teste da Rede Globo e ela havia dito que outra colega não passaria porque era feia. E olhe que ela nem é bonita, ela é ‘normalzinha’, é o que pode se chamar de arrumadinha. Eu não quero ficar com raiva dela, porque eu gosto dessa minha colega, mas tá difícil...
No fim das contas tenho quase certeza de que ela falou na inocência, coitada. Acho que é o que chamamos de racismo velado. Ela deve estar deslumbrada com um ambiente de trabalho totalmente fútil (acredite, isso existe de montão no jornalismo).
Me lembrei de outro fato também. Em um dos inúmeros processos seletivos pelos quais passei, fui entrevista por uma negra. Uma jornalista muito bonita e inteligente por sinal. Ela havia trabalhado na redação de uma das mais conhecidas revistas semanais brasileiras. Outra colega que trabalha com ela disse que uma capa dessa mesma publicação havia sido vetada por conter uma foto onde o dono de uma empresa estava abraçado com seu funcionário que era negro.
Essa jornalista, que na época era repórter da publicação, foi chamada para uma conversa onde pediram para que ela não ficasse chateada pelo ocorrido. Essas coisas estão mais perto de nós do que imaginamos...
Por fim, devo dizer que a maioria das pessoas aprovou o visual, e mesmo se não o tivessem feito, eu não ligaria. Não é do meu feitio dar importância demasiada ao que não tem importância, ou a quem não tem importância. Mas você vai concordar comigo. Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre que se conforma em ter dinheiro e representar uma boa imagem aos outros, né? Deve ser muito triste ser o que tem...
3 comentários:
Adorei seu texto. Será que ainda não vi seus cabelos... fiquei na dúvida.
Acho que nossa aparência não deveria contar em nada com contratação de pessoas ou não, tanto é que quando procurava emprego várias vezes me deparava com anúncios "favor enviar curículo com foto" pra esses lugares nunca enviei currículo algum, é errado ser julgado pela aparência. Sei que isso existe, mas odeio isso. Vou lançar uma campanha: Não coloquem fotos em seus currículos.
Beijos!
Dê, amei seu texto. Genial!
Tem preconsceito em todo lugar, até onde menos esperamos. Até nos mesmos, sem querer, dizemos, ou pensamos, uma ou outra coisa que pode ser, digamos, ofensiva, a um tipo, ou outro, de pessoa. Quem sabe se hj ñ cuidarmos p/ q nossos filhos entendam a igualdade entre raças ñ teremos no futuro pessoas mais tolerantes e um mundo mais justo... Pode parecer sonho de menina moça...Utopia, wherever... mas eu acredito !
Até mais!
ps.s: vc comentou no meu blog faz pouco tempo, acho q vc ñ me reconheceu! mas aquele é o Blog da Kimera, q mudou de nome e visú...rs rs... E eu sou aquela estagiária da Cátedra, da faculdade, lembra?
bjos
nussa!
quem é essa colega? será q é qm estou pensando?
bom, deixa pra lá.
eu já te disse, mas ficou ótima com o cabelo novo. e é melhor ainda pq vc é a ÚNICA pessoa que conheço que muda tão radicalmente de visual!
bjo
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