sábado, 17 de fevereiro de 2007

AI QUE SAUDADE DA AURORA DA MINHA VIDA, DA MINHA INFÂNCIA QUERIDA QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS...


Faço minhas as palavras daquele gordo chato que apresenta um programa inútil aos domingos à tarde há décadas: “Recordar é viver”. Ô loco meu!!!

Hoje estava me recordando de coisas tão simples e tão gostosas... Logo que a minha mãe se divorciou, eu ela e meu irmão fomos morar no centro de São Bernardo. Em um kitchenete (acho que é essa a grafia). Só nós três. Era um cômodo minúsculo que se dividia em quarto e sala, um banheirinho, uma lavanderia e uma cozinha que pareciam mais pertencer a uma casa de bonecas. Mas fomos tão felizes naquele apartamento... Eu e meu irmão dormíamos em um beliche e a minha mãe no sofá-cama, mas era tudo tão lindo, tão perfeito... Ai que saudade... Acho que o pouco espaço contribuía para que fossemos mais próximos. Tanto física quanto emocionalmente.

Me lembro como se fosse um filme. A minha mãe nos acordava aos sábados ao som de The Beatles. É lógico que ela não perdia a oportunidade de me dar um belo de um susto. Imagine só acordar com um HELP! Beeeeeeeem alto. Nossa, meu coração faltava sair pela boca! O meu irmão sempre estava assistindo. Ele não era preguiçoso como eu e acordava logo na primeira chamada. O susto sobrava para quem demorava mais para levantar. Refeita do susto, era hora de arrumar a casa, o que, aliás, era bem fácil, porque não cabia muita bagunça ali.

Casa arrumada, banho tomado, roupa nova. Íamos para o Best Shopping a bordo da boa e velha brasília bege. Sim, eu sou da época em que esse era o shopping mais agitado de São Bernardo e ainda se viam nas ruas carros como a brasília em bom estado, como a da minha mãe.

Havia um roteiro a ser cumprido. Assistíamos algum filme, comíamos um super-dog, depois ganhávamos algum presentinho. Uma blusinha ou um tênis mais baratinho, afinal, não dava para comprar tênis caro todos os finais de semana.

Mas sabe que nós nem éramos incentivados a dar tanto valor à essas coisas? Ganhávamos um Lê Cheval ou um M2000 (que eram os tênis da moda) e durante um ano os usávamos. E só nas ocasiões de gala! Para os eventos comuns do dia-a-dia tínhamos os mais velhos.

Chegávamos em casa felizes por termos passado a tarde juntos. Se o programa fosse ir até a casa de algum parente a satisfação era a mesma. Sempre voltávamos contentes.
Me lembro também que a minha mãe colocava o som “no talo” e nós dançávamos na sala, eu ela e meu irmão. Eventualmente uma vizinha e os seus filhos eram contagiados com a energia e acabava cabendo todo mundo naquela salinha. Todos dançavam ao som da jovem-guarda, felizes.

A felicidade já foi fácil...

Eu sou feliz hoje, mas sou saudosista. Alguma coisa me diz que a felicidade já foi mais simples. E olha que o tempo verbal passado não é o meu preferido, hein...

5 comentários:

Unknown disse...

Saudosista? Somos duas! Não por menos um de meus apelidos é "museu"...
Sou solidária à idéia de que a felicidade já foi mais fácil de se conquistar, às vezes tb tenho essa sensação...
Acredito, porém, que cada época tem sua beleza, sua magia... e acontece no tempo certo para desfrutarmos todos os momentos, mesmo que só reconheçamos sua grandeza no correr dos anos!

Denise com s. disse...

Putz, eu tenho uma amiga poetisa e nem sabia!!! Só você mesma, Cá!

Flavio Dutra disse...

Cheguei aqui pela estrada do Google, procurando essa .poesia de Casimiro de Abreu, e me deparo com este texto singelo quanto belo. E lá se vão quase 5 anos desde que foi escrito. Espero que tenha continuado. Voltarei aqui para conferir. Parabéns menina!

capoeirareal disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
capoeirareal disse...

Como "MEUS OITO ANOS " de Casimiro de Abreu, seu relato é um testemunho escrito rico e cheio de emoção que nos faz voltar à aqueles momentos em que tudo era simples e nossa única preocupação era de passar de ano na escola, ainda hoje postei um comentário no faceboock à respeito da série de um dos meus heróis de infãncia SPECTREMAN relatando quão feliz nós éramos presos dentro de casa, com a Mãe e o Pai trabalhando e não podiamos nem se quer sair ao quintal e a única alternativa era de assistir a tv que tinha um conteúdo maravilhoso tais como; o sitio do pica pau amarelo, pinóquio, os heróis japoneses como Jet Marte,o Ultraman, Robô gigante, perdidos no espaço, jornada nas estrelas entre outros e eu e minhas três irmãs ficavamos ali sempre juntos em uma época em que a geada se fazia presente e nós todos ali em baixo das cobertas assistindo a tv que era preto e branco de segunda mão e com valvulas e aquele seletor barulhento, nem sonhávamos com os controles remoto de hoje, foram anos memoráveis de união familiar que apesar de humilde finaceiramente falando era riquíssimo de calor humano e amor...
Ai que saudade da aurora da minha vida...Obrigado por compartilhar sua História minha amiga... Muita paz à vc ....